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terça-feira, 24 de maio de 2011

Postura


Eu não tenho toc, pelo menos eu acho. E eu tinha tudo para ter transtorno obsessivo compulsivo porque meu pai sempre nos deixou neuróticas com a mania de perfeição dele. Mesmo assim, são raras as coisas que me incomodam por estarem fora do lugar. Na verdade são poucas as coisas que me incomodam mais do que alguém corcunda. Que fica curvado na frente do computador, que senta todo encolhido, que anda com os ombros para baixo. Eu realmente tenho vontade de pegar o ombro dessa pessoa e colocar no lugar.

Talvez isso seja algum tipo de trauma dos tempos em que meu pai me nos fazia andar nos meio-fios sem cair e equilibrar livros na cabeça sem derrubar. Talvez seja trauma da palavra que mais escutamos do Seu Zé Paulo nas nossas vidas: POSTURA.

Essa obsessão do meu pai para que tivéssemos uma boa postura nunca significou um investimento numa provável futura carreira de modelo. Aliás, ele jamais permitiria que nenhuma de nós entrasse nessa vida. Fizemos balé também, mas não para sermos bailarinas profissionais, somente o tempo necessário para aprender disciplina, leveza nos movimentos, delicadeza e... postura.

Hoje eu agradeço ao meu pai por isso. Hoje compreendo que postura é algo que vai além de uma coluna alinhada. Postura é quase um estado de espírito. É classe. É não baixar o nível nem na pior das discussões. Postura é para poucos.

Além das corcundas outra coisa que me irrita é barraco. Foi papai que ensinou a não resolver as coisas no grito, mas com firmeza. Quanto maior a gritaria, menor a razão. E se não existe razão, consequentemente não existe o que se argumentar. E gente que não sabe argumentar não merece o meu respeito. Não interessa a posição da pessoa. Se o poder que ela tem foi conseguido no grito, ela não faz jus a ele.

Apesar de todos os traumas que Seu Zé Paulo causou na minha vida nessa exigência que ele tinha pela perfeição, eu agradeço por ele ter me ensinado a ser uma pessoa educada. Hoje, adulta, trabalhadora, eu vejo como existe gente baixa no mundo. Que perde a linha por pouco. Que vai terminar a vida sozinha porque ninguém consegue viver com gente grossa.

Hoje eu agradeço ao meu pai por ter me ensinado a deixar certas coisas entrarem por um ouvido e saírem por outro.





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