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quinta-feira, 19 de maio de 2011

Abandonada no quase-altar





Ontem uma chinesa de 22 anos tentou se jogar do 7º andar de um prédio depois que o noivo desistiu de casar. A menina se vestiu de noiva e quase foi parar no andar de cima (ou no umbral, já que ela seria uma suicida), mas foi resgatada pelo oficial cominitário de Changchun.

Eu entendo Miss Li (a tal ex-noivinha). Quando eu tinha 23 anos aconteceu a mesma coisa comigo e eu só não me matei porque amo demais viver. Se eu tenho uma certeza na vida é que não sou, e nunca serei, uma suicida.

Eu estava noiva, faltava menos de um mês para o meu casamento. Henrique tinha ido embora para São Paulo e eu estava com as malas praticamente prontas para viver minha vida de marido-e-mulher nessa cidade gigantesca.

Ele veio passar o fim de semana em Brasília porque era meu aniversário. Foi tudo perfeito. A festa, a comemoração só entre nós dois, as risadas, os almoços, os jantares... Na segunda-feira, quando fui deixá-lo no aeroporto ele simplesmente olhou para minha cara e disse que não estava pronto para casar. Que não tinha falado antes para não estragar meu aniversário. Mas que ele já estava com muita dificuldade de se adaptar a nova vida em Sampa, casar ia deixar tudo mais complicado.

Eu lembro como se fosse hoje. Na hora não chorei, não ri, não gritei, não esperneei, não sai do lugar. Ele me deu um beijo na testa, entrou no portão de embarque e foi. Eu fiquei. Passei a segunda toda parada em pé, no mesmo lugar, talvez estivesse esperando ele voltar e me dizer que tudo não passava de uma pegadinha.

As pessoas do trabalho, minha mãe, minhas irmãs, meu pai me ligavam. Acho que estava todo mundo desesperado. Não sei como Dona Maria me encontrou no aeroporto. Ela disse que me procurou pela cidade inteira depois de falar com Henrique e saber o que tinha acontecido. Segundo minha mãe, uma inspiração divina mandou que ela me procurasse lá.

Eu estava catatônica. Não falava, não reagia. Caminhei até o carro, cheguei na casa dos meus pais, deitei na minha cama e desabei. Foi ai que realmente vi meu sonho desmoronar. Eu não queria sair daquele quartinho nunca mais. Não queria dizer às minhas amigas, aos meus conhecidos que tudo tinha acabado. Não sabia como dizer ao mundo que não haveria mais casamento nenhum, depois de convites entregues, chá de panela feito, presentes recebidos. Eu realmente pensei que morrer fosse melhor do que encarar tudo isso, mas decidi viver e mostrar para o Henrique que ele ia ver a bobagem que tinha feito.

Se os homens soubessem os males que causam às mulheres com esses comportamentos, nunca o fariam. Nenhuma mulher é tão fria e desacreditada no amor de graça. Ela tem que sofrer muito para ficar assim, porque é da natureza da mulher sonhar e acreditar que o outro não vai mais errar. E tirar essa pureza de uma mulher é o maior crime que um homem pode cometer.

Terminar um noivado às vésperas do casamento, sem nenhuma sinalização de que as coisas não estão legais é péssimo. Nós crescemos planejando esse dia em nossas vidas. Vemos os filmes da Disney e desejamos o vestido da nossa princesa favorita. Escolhemos as flores do buquê ainda na adolescência e quando finalmente nos dão a chance de realizar esse sonho, nós ficamos nas nuvens.

Dá um trabalho danado preparar um casamento, mas a noiva não está nem aí para isso. Cada reunião com decorador, cada degustação de buffet é um tijolinho desse castelo encantado que construímos na nossa imaginação na hora de casar. Demolir tudo isso quando falta apenas a última telha ser colocada no lugar é a maior crueldade que se pode fazer.

Eu entendo Miss Li. Eu sei a dor que ela sentiu. Queria muito dizer a ela que vai passar e logo tudo voltará ao normal, mas estaria mentindo. Nunca mais seremos as mesmas. Uma aversão a casamento nascerá dentro dela como defesa. O medo de passar por tudo isso de novo vai ser maior que a nossa capacidade de amar. E por causa disso Miss Li vai se meter em relacionamentos complicados, vai estragar muitos deles que poderiam dar certo, e inconscientemente vai procurar defeitos em todo e qualquer homem que ouse se aproximar....

Ah se os caras soubesses os males que nos fazem ao destruir os nossos sonhos, é pior, muito pior, que destruir nossos corações.

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